segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Questão 57 (UFRGS/2012)



Resposta: B

Esta questão requer, para não precisar recorrer à decoreba, conhecimentos de certos processos geológicos importantes no planeta (como a formação do petróleo brasileiro e do oeste africano) bem como questões geopolíticas atuais e/ou residuais (como os processos do norte africano, do sul da África, etc).

1) Petróleo e gás natural: número 1.

Petróleo (óleo em pedra) e gás natural (“petróleo gasoso”) são utilizados pela humanidade como combustíveis. Como eles são o resultado de complexos processos de deposição de matéria orgânica (principalmente plânctons) no fundo dos mares e sua posterior transformação química em óleo e gás durantes milhões de anos, são considerados combustíveis fósseis. São encontrados em ambientes sedimentares (
bacias sedimentares que um dia foram invadidas pela água do mar). Nelas a matéria orgânica morta, depositada no fundo, sofrerá ação de bactéria de decomposição incialmente. Posteriormente pacotes e mais pacotes de sedimentos finos irão depositando sobre esta matéria orgânica formando camadas espessas sobre esta matéria orgânica gerando aumento de temperatura e pressão sobre estas, o que irá acelerar as reações que resultarão em petróleo e gás natural.

Partes dos petróleos encontrados no Brasil e na África possuem a mesma origem: o petróleo das bacias sedimentares que estão na margem dos continentes, mais especificamente na costa atlântica. A formação deles somente foi possível após a separação entre os continentes em questão (América do Sul e África) à cerca de 140 milhões de anos no contexto de
fragmentação do supercontinente Pangea.

Na África o petróleo com a origem citada está principalmente nos países do
golfo da Guiné (tendo Nigéria e Angola as maiores reservas). 

Veja ao final desta correção o caso das atrocidades da Shell na Nigéria.





No Sudão, também considerado país do norte africano, existe a terceira maior reserva de petróleo da África subsaariana (ao sul do deserto da Saara). O Sudão tem sido um foco permanente de conflito interno gerando intensificação de interesses do imperialismo naquela região, na medida em que ali existe petróleo. A China é atualmente o maior importador do petróleo sudaniano. Esta ação chinesa faz parte de um contexto de ações geopolíticas deste país sobre a África visando a conquista de importantes mercados fornecedores de matérias-primas estratégicas para o crescimento econômico chinês. 








Obs: recente independência do Sudão do Sul:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/07/110708_sudao_do_sul_independencia_mm.shtml

Quantos aos países do norte da África, nós temos que nos lembrar da recente
Primavera Árabe que levou a discussão da questão da Líbia, um importe produtor de petróleo. A maior influência recente na Líbia é herdeira do imperialismo burguês clássico (1870-1945) onde teve a Itália como principal interessado. Este país europeu invadiu a Líbia nas duas guerras mundiais. Atualmente a maior parte do petróleo Líbio vai para a Itália. 





2) Ouro, prata, cobre, bauxita e diamantes: número 2.

A área de número 2 pode ser melhor compreendida se analisarmos aquela posicionada ao sul da África, onde se encontra um dos países mais importante deste continente: a África do Sul, grande produtor e exportador de ouro e diamantes entre outros minerais. Não podemos nos esquecer de que o imperialismo burguês clássico (1870-1945) gerou duas importantes guerras na região para apoderar-se das jazidas de ouro e diamantes:
as guerras dos bôeres (1880 e 1881 e 1899 e 1902) onde tropas britânicas venceram as tropas de colonos holandeses e franceses na região.

3) Bosques florestais: número 4.

Bosques florestais são referentes aos climas úmidos. Sendo assim, precisamos compreender as dinâmicas globais do clima que nos indicam determinados padrões globais de clima que se refletem no continente africano. Este continente é partido pela linha equatorial. Sabemos que na região equatorial e suas imediações, existem abundantes precipitações a as maiores temperaturas do globo, os grandes “combustíveis” das formações florestais equatoriais. As precipitações são fruto da
convergência dos ventos alísios. Estes ventos convergem em superfície e iniciam sua ascensão. Em ascensão, o ar resfria e a umidade nele contida irá condensar formando nuvens convectivas gerando quantidades de precipitação necessárias às formações florestais. Este processo é responsável pela formação das florestas equatoriais existentes no mundo: floresta amazônica, da indonésia e a do Congo (abordada pela questão). 




Outra variável que explica a existência de formações florestais é a atuação das correntes marítimas superficiais quentes, bem definidas no litoral índico africano. Elas favorecem climas quentes e úmidos litorâneos como em Moçambique e na ilha de Madagascar (onde temos mais um número 4).

4) Reservas de urânio e carvão: número 3.

A chave da questão está no país Níger, onde está o número 3. O Níger é um importante fornecedor de urânio para França, país onde a energia elétrica depende em 80% das centrais nucleares.
 



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SOBRE LA SHELL EN AFRICA
De Eduardo Galeano
http://casoshell.blogspot.com/2006/06/caso-shell-na-nigria.html 
 

O caso Shell na Nigéria
Desde que a Shell começou em 1958 a extração de petróleo no Delta do Níger, Nigéria, ela tem causado problemas ambientais no território do povo Ogoni. 14 por cento do óleo explorado no mundo todo pela companhia vem da Nigéria e 40 por cento de seus vazamentos de óleo entre 1976 e 1991 ocorreram no mesmo país01. Foi lá que ocorreram 2.976 vazamentos de óleo entre esses anos03. Apenas na década de 70, os vazamentos totalizaram mais de quatro vezes a tragédia de Exxon Valdez04. É assim que a Shell tem contaminado as áreas cultivadas e as fontes de água, além de liberar gases a poucos metros da vila do povo Ogoni.
A Shell promove assim a chuva ácida, a mortandade em massa de peixes e o sofrimento dessas pessoas em virtude de vários problemas de saúde causados da poluição da água e do ar. Uma pesquisa curta do Banco Mundial encontrou níveis na água de poluição por hidrocarbonetos mais de 60 vezes o limite dos Estados Unidos05 e um projeto de recursos subterrâneos de 1997 encontrou nas fontes de água de uma vila Oboni níveis atribuídos à Shell 360 vezes acima do permitido na Comunidade Européia06. O médico Owens Wiwa observou níveis maiores de certas doenças na população local, entre as quais estão asma brônquica, outras doenças respiratórias, gastroenterite e câncer, novamente tudo como resultado da área da indústria do óleo07. Ao clamar por justiça ambiental, as forças militares nigerianas têm usado a tática do terror como forma de intimidar e de fazer cessar as demandas ambientais. Desde que essa Força-Tarefa iniciou suas atividades, ela tem sido apontada como culpada pela morte de mais de dois mil ogonis e pela destruição de 27 vilas. Nove líderes pacifistas foram enforcados após julgamentos em cortes militares, sendo que duas testemunhas que os acusaram admitiram que a empresa e os militares os subornaram com promessa de dinheiro e empregos na Shell em troca do seus testemunhos. A Shell admitiu ter pago aos militares da Nigéria, que brutalmente tentaram silenciar as vozes que buscavam a justiça.
A Suprema Corte norte-americana autorizou em março de 2001 um processo contra a Companhia. Os advogados da Shell e da sua subsidiária Shell Transport and Trading argumentavam que os Estados Unidos não autorizam uma ação por crimes acontecidos em outros países, mesmo que digam respeito à lei internacional. O caso foi apresentado em 1996, em um tribunal federal de Nova York, por familiares de Ken Saro-Wiwa e John Kpuinen, que comandavam os protestos contra a extração de petróleo na região habitada pela etnia Ogoni, na Nigéria. Por causa dos protestos contra a Shell, os dois ativistas foram repetidamente torturados pelo regime militar que então governava a Nigéria. Saro-Wiwa e Kpuinen foram enforcados em 1995, após serem condenados por assassinato.

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