Moradias em áreas de risco:
várzeas de rios e encostas íngremes.
Este texto é originário de um
projeto educacional desenvolvido em 2011com a minha turma de regência na Escola
Municipal Emílio Leichtveis (município de Taquara). Os alunos àquela época
estavam na sexta série (atual 7° ano). Espero que gostem.
1. Um nível de abordagem mais próximo do ensino fundamental
Durante a construção deste pequeno projeto desenvolvido com
os alunos partimos de um processo pedagógico que foi desde a construção das maquetes até a compreensão
dos principais conceitos envolvidos naquele processo todo.
Em um primeiro momento buscamos compreender o porque das moradias em várzeas de rios e encostas íngremes não são uma
boa alternativa ainda mais se houver a prática do desmatamento. Assim, abriu-se
a possibilidade de construirmos o conhecimento acerca dos processos
desencadeados pelo desmatamento: erosão, assoreamento, deslizamento
de terras, etc.
No segundo momento foi
questionado o motivo pelo qual as pessoas ali instalarem suas moradias. Surpresa! (?) Já havia
nos alunos a ideia de que tal atitude consistia não em uma simples escolha esvaziada de determinantes sociais como a questão da renda. Não! Existia a consciência de que a grande maioria das pessoas ali habita justamente por não terem condições suficientes de morar em bairros bem localizados.
Então, no terceiro momento,
montamos um simples fluxograma que recriou o processo histórico que originou o foco deste
trabalho: a modernização da economia brasileira que, mesmo ao penetrar no campo
foi excludente, contribuiu para gerar um imenso fluxo campo-cidade (êxodo rural)
ao desempregar pessoas no campo e aumentar a concentração da propriedade da
terra. Tanta gente sem recursos viu-se obrigada a ocupar áreas impróprias, o que não ocorreu sem levar em conta a questão do preço da terra nos meios urbanos.
2. Buscando agora um nível mais
elevado de compreensão desta realidade.
2.1. Uma introdução
importante.
É muito comum
observáramos na mídia em geral verdadeira tragédias envolvendo famílias, na
esmagadora maioria dos casos, pobres, e tem suas casas e pertencem total ou
parcialmente destruídos por conta de desastres que envolvem processos da
natureza. Pois bem. Ai segue uma novidade que muitas pessoas não se dão contam:
tais eventos trágicos não meramente “culpa” da natureza ou, como diz outro
tanto de pessoas, culpa de quem se expõe a tais ambientes em risco habitando
várzeas de rios ou encostas íngremes de morros, por exemplo, como é o foco
deste trabalho.
A questão é
muito mais ampla. Ela permite, ao buscar as raízes dos fatos que se
desencadeiam, que façamos uma busca histórica da criação do Brasil moderno. A
modernização econômica do espaço geográfica brasileiro deu-se de forma intensa
e potencializando as contradições típicas do capitalismo ao extremo. Nosso país
de industrializou de forma robusta no século XX mantendo a miséria e a pobreza
das classes que trabalham. Tal modernização espalhou-se por ilhas de
prosperidade rural enquanto um oceano de arcaísmo se manteve. Em meio à isso
tudo se fez consequente um êxodo rural gigantesco que combinado à especulação
do solo urbano relegou milhares de migrantes à ocupações de áreas impróprias
para uma moradia digna. E o motivo, neste caso foi apenas um: não tinham
condições monetárias para pagar aluguéis em boas áreas residenciais ou então
adquirir suas casas próprias. Restou-lhe, entre outras localidades, áreas de
risco como várzeas de rios e encostas íngremes. Isto é, estamos aqui tratando
de fenômenos naturais si, mas combinados com a intransigência dos processos
históricos de expropriação típicos do capitalismo brasileiro. Ninguém que
esteja no pleno gozo de suas faculdades mentais e materiais (dinheiro)
habitaria uma área de risco a menos que isso lhe seja imposto historicamente. É
isso que precisamos ressaltar: opções históricas de como o Brasil iria se
modernizar tomadas a décadas geram impactos no futuro.
2.2. Os processos
naturais de indução antrópica nas áreas de risco.
A primeira
questão a ser respondida é como se dá em determinada área os processos denominados
morfogenéticos, isto é, os processos que geram destruição/(re)modelagem das
formas de relevo. Sendo assim devemos
levar em conta:
(a) As características dos grandes tipos climáticos
que, obviamente à exceção do clima tropical semi-árido, são pródigos em
precipitação pluvial. Isso torna ainda mais ofensivo o potencial erosivo dos
rios (erosão fluvial) e da chuva (erosão pluvial).
(b) Além disso, as formas de relevo existentes no
Brasil. Sabemos que o Brasil é um país onde predominam planaltos e depressões.
Sendo assim, encostas íngremes são muito comuns e quanto maior a inclinação da
encosta, maior será o potencial erosivo. Porém, temos muitas pessoas morando em
planícies fluviais nas margens dos rios, nas várzeas. E, se levarmos em conta
que temos climas chuvosos, tais margens são periodicamente alagadas (por isso
são denominadas várzeas).
(c) Outra questão importante de ordem natural são as
características de rocha e solo da área. Determinados tipos de solos irão ter
condições distintas de permeabilidade, coesão e plastibilidade. Isso tudo
influi no potencial erosivo.
Porém, tais
processos podem ser induzidos por ações antrópicas, ou seja, ações humanas. Mesmo
porque tais áreas são ditas de risco justamente pelo fato de representarem
riscos à integridade física do homem e de seus artefatos territoriais (habitação,
principalmente). No caso deste trabalho a principal ação humana que temos que
levar em conta é o desmatamento. A vegetação oferece uma importante resistência
à erosão na medida em que ela:
(a) Torna as partículas do solo mais agregado
através de suas raízes;
(b) Aumenta a infiltração de água (componente
perpendicular) no solo ao invés de permitir que grande parte da água da chuva
escoe pela encosta dos morros (o que seria o componente paralelo, ou seja,
paralelo à vertente), seja de forma laminar, concentrada ou então difusa.
(c) A menor quantidade de água de escoamento que
temos com a vegetação possui justamente por causa desta uma velocidade muito
inferior, pois a cada centímetro que percorre as raízes barram esta água assim
como a serapilheira (galhos e folhas caídas ao solo e demais corpos orgânicos
mortos).
(d) Impede que efeito splash tenha maior
abrangência. Tal efeito designa a ação desagregadora que uma gota de chuva gera
sobre o solo. O efeito splash é o grande facilitador do trabalho da erosão
pluvial quando a água da chuva começa a escoar.
Nas áreas de
risco alvo do nosso trabalho nós temos o desmatamento como sendo a principal
ação desencadeadora de processos que irão culminar em desastres. Vejamos:
Legal, parabéns.
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